Bússola sem norte
Olá, chamo-me Sofia, sou mãe de dois rapazes e de uma cadela, gosto de escrever e de dançar, tenho mais dúvidas do que certezas e, pelas minhas contas, já achei que estava infetada com o novo coronavírus mais de dez vezes.
Esta é a minha primeira crónica na Bússola e nem hesitei em responder afirmativamente ao convite para a escrever. Afinal, nestes tempos tão escuros e sombrios em que estamos a viver, nada melhor que uma Bússola para nos orientar, indicar um caminho e nos dar orientações até uma direção desejada. Se depois respeitaremos as indicações, isso já é outro assunto e, se estiveram atentos ao primeiro parágrafo, quando me descrevi, eu não disse que era bem mandada.
Tenho cinquenta anos, sou uma miúda do Oeste que aprendeu a nadar nas águas da Praia de Paredes da Vitória e ando, como vós, a tentar sobreviver a este vírus que nos faz sentir num episódio de Black Mirror. Sigo as recomendações da Direção Geral de Saúde (nisso faço o que me mandam), saio de casa só para o essencial e tenho passado os dias a fugir à tentação de contar os dias num calendário como se estivesse aprisionada, e a tentar fazer com que cada dia importe.
Leio, tiro partido de morar numa casa de uma aldeia pequena e ponho a música bem alto, danço, ando a ver a série Killing Eve e já sonhei que matava com um machado os que furam o confinamento, faço bolos de banana, telefono e mando mensagens a quem não poderia deixar de o fazer e seleciono cada vez mais o que vejo nas redes sociais. Sou como o comum dos mortais, tenho dias em que encaro a vida e o dia corre bem e outros em que me arrasto como se o meu corpo andasse com a alma a reboque.
Neste janeiro de 2021, procuro, tal como a maioria de vós, orientar-me em casa nestes tempos pandémicos. É que, mesmo já existindo um plano de vacinação contra a Covid-19, ainda não há uma bússola certeira que nos ajude a fugir de nos infetarmos. Há, contudo, esta Bússola, onde tenho agora o privilégio de escrever, que nos oferece música, ideias, sonhos, propostas para passearmos quando desconfinarmos e textos de pessoas tão diferentes e tão iguais como eu. Quanto a mim, mensalmente, prometo seguir a agulha que encontra o polo Norte geográfico e comparecer aqui na Bússola.
Acompanham-me na viagem?