A (minha) filosofia barata
Filosofia barata é a minha. Não me custa nem um cêntimo, mas tem-me ajudado a viver melhor.
Eu explico. Tenho cinquenta e um anos e jamais me ouvirão um queixume a dizer que estou velha. Claro que, como diz a minha amiga Carla, eu já não vou para nova, mas acho que só não agradeço naquelas dias raros em que adormeço no sofá e caminho apardalada em direção à cama. Tenho cinquenta e um anos e sei a sortuda que sou por poder ver os meus filhos crescerem saudáveis; por ter visto o Sporting ser campeão; por me ter regalado com bolo de chocolate morno e uma ginjinha de Óbidos no sábado passado; pela minha amiga Xana ter tido a brilhante ideia de irmos ver a Companhia Olga Roriz, no dia 18 de junho, ao Teatro José Lúcio da Silva; por ter ainda a minha mãe a cozer-me o feijão verde como eu gosto; por conseguir ainda decorar letras de canções e de poemas e por ter quem me ame com as minhas paranóias…
Claro que tenho dias em que nem a filosofia nem a poesia me parecem salvar, mas quando isso acontece penso na Ana.
A Ana partiu no dia em que saiu de um jantar comemorativo dos que, tal como ela, tinham feito quarenta anos, e um carro a apanhou para a levar. Filha única, deixou os seus pais, o Miguel e os seus dois rapazes maravilhosos. E deixou-me a mim, e a cada aniversário que passa, a pensar na lotaria que ganhei em ter chegado aqui, aos cinquenta e um, saudável e com tanta ânsia de viver.
O ano passado comemorei meio século da forma possível e, mesmo sem ter emitido uma lamúria, passei o ano com a sensação de encontros, de palavras e de abraços adiados. No entanto, tenho andado a desconfinar devagarinho, acompanhada pela felicidade de, um ano mais tarde, me sentir maior e vacinada. Agora, para ficar ainda mais contente, só me falta é ver também os meus amigos vacinados. Ui! Aí é que eles vão ver o que é bom para a tosse- abraços apertados, pois claro!
Fica aqui esta (minha) filosofia. Levem-na e não se queixem - ela é totalmente grátis!